Rose Tremain



Música e Silêncio



Acende-se uma luz.
Até este momento em que a súbita chama azul se agita no pavio e em seguida se firma, dourada , no interior do globo ornamentado, o jovem sentira-se impressionado com a profunda escuridão em que penetrara, à sua chegada, em plena noite, ao castelo de Rosenborg. Cansado da longa viagem por mar, com os olhos a arder, o passo vacilante, ponderara a natureza desta escuridão.

Parecia-lhe que era mais do que um mero fenómeno exterior, resultante da efectiva ausência de luz; era como se emanasse de dentro de si próprio, como se ele tivesse finalmente transposto o limiar da sua ausência de esperança.
Alivia-o agora ver tomarem forma, em seu redor, as paredes apaineladas de uma sala. Uma voz informa-o:

- Esta é a Vinterstue. A sala de Inverno.

A candeia ergue-se. A chama arde mais intensamente, como que alimentada por um ar mais puro, e o jovem vê uma sombra projectada na parede. É uma forma comprida, inclinada, que ele sabe ser a sua.



«No limiar do século XVII, um jovem tocador de alaúde chamado Peter Claire chega à corte dinamarquesa para se juntar à orquestra do rei Cristiano IV.
Após a humilhante derrota frente à liga católica, a Dinamarca é um reino à deriva, cujo megalómano rei vive tomado pela raiva e pelo terror, apenas encontrando algum consolo na música. Sua mulher, Kirsten, tem um temperamento instável e é adúltera, facto que se tornou do conhecimento público.
Ao aperceber-se de que a orquestra real toca nas profundezas de uma sombria e gélida adega, Peter - que vai ter um caso amoroso com Emilia, dama de companhia da rainha - questiona as suas próprias motivações e depressa se apercebe que chegou a um sítio onde os estados antagónicos de luz e escuridão, paixão e ódio, bem e mal, travam uma batalha mortal.»

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.__________boas leituras

Betty Branco Martins